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IMPACTO


IMPACTO DAS TENDÊNCIAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO SOBRE OS JOVENS

Diversos estudos do mundo urbano globalizado coincidem ao indicar traços comuns da cultura contemporânea que exercem forte influencia sobre a juventude. Alguns desses traços estavam presentes em outras épocas, e alguns estão presentes, também, no meio dos adultos. Falamos de tendências. Eis algumas delas:
  • Centralidade das emoções e relativização dos valores e das tradições: escolha de experiências sem critérios absolutos. Valoriza-se mais o flexível, o momentâneo, e anseias-se gozar o momento presente, com poucas perspectivas para o futuro. Têm-se dificuldades com o silêncio interior.
  • Uma geração de pouca leitura e da imagem, acostumada a estímulos constantes para manter sua atenção. Uma geração “zapping” (com controle remoto da TV na mão), mudando de canal em canal para encontrar novos estímulos. Ao mesmo tempo, há necessidade de levar em conta que talvez esteja havendo mudanças no modo de ler, por exemplo, através da Internet.
  • Não acredita em compromisso definitivo, no mundo do trabalho, nem na vida consagrada, nem na vida conjugal. Tudo isso afasta e amedronta. Muda-se o modo de enfrentar os compromissos. Há grande dificuldade e medo em se escolher uma faculdade, uma profissão. ... Em definir um projeto de vida.
  • Opção por relações interpessoais e horizontais. Preferência por relações democráticas, de tolerância horizontal e aberta. Os grupos de amigos e “a boa relação familiar” são muito valorizados. Há rebeldia diante de instituições “retrogradas” e que se opõem ao novo e impaciência com autoridades opressoras. Percebe-se também o sentimento de pertença nas motivações e experiências horizontais democráticas, menos segregação racial e preconceituosos.
  • Fragmentação da identidade: Há grande confusão quanto à imagem de sai mesmo e fuga de relações estáveis.
  • Cresce igualdade de condição entre homem e mulher. Sensível diminuição do machismo; presença maior de mulheres no mercado de trabalho, no mundo da política, cultura e educação.
  • Enfoque de subjetividade. A pessoa está centrada quase que unicamente em seus problemas e necessidades pessoais.
  • Desinteresse pela macro-política e grandes estruturas: maior inclinação pelas pequenas transformações do que de grandes obras ou revoluções.
  • Tendência ao sincretismo religioso e às formas religiosas ecumênicas: maior liberdade de expressão e dificuldade de viver vinculado a valores institucionais, a uma estrutura de paróquia e à figura da autoridade.
  • Tendência ao hedonismo e à vulnerabilidade psicológica: dificuldade de elaboração de momentos de frustração, do tempo de espera, das angustias, e opção preferencial pelo prazer e pela felicidade, entretenimento e consumo imediato. Não questiona a sociedade de consumo. Frente aos desafios e obstáculos que a vida, às vezes, apresenta, o jovem se sente tentado a desistir. Busca-se imperativamente a felicidade. Ao mesmo tempo, frente à ameaça da fragmentação, há um segmento da juventude que revela tendência de refugiar-se no conservadorismo ou até num certo fundamentalismo.
  • Fragilidade dos laços familiares: a ausência de um contexto familiar educativo deixa cicatrizes emocionais e afetivas na vida dos jovens, dificultando o processo de amadurecimento.
Este perfil da juventude contemporânea pode parecer muito negativo. Porém, não estamos falando de toda a juventude. Há jovens que são diferentes do retrato descrito. Estamos falando das grandes tendências. Tampouco, não podemos cair na tentação da nostalgia, considerando que as gerações anteriores eram melhores. Cada geração tem suas luzes e sombras. Esta geração não é pior ou melhor que as outras gerações. Devemos evitar uma supervalorização da juventude de outras épocas. E o processo de evangelização, a metodologia, os enfoques, o ponto de partida e o sistema de acompanhamento têm que levar isso em conta para não ficar encalhado na estrada de uma história que não espera. A juventude de hoje é tão generosa e idealista quanto a anterior. Basta saber trabalhar com ela. A questão é a metodologia de trabalho e a paciência para acompanhar os processos de educação na fé. O processo hoje leva mais tempo e exige um investimento maior para penetrar as barreiras do individualismo e da indiferença.

SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA JUVENTUDE BRASILEIRA

As disparidades de renda são grandes entre os jovens. Em 2000 (Censo IBGE): a maioria (58,7%) vivia em famílias que tinham uma renda per capita menor do que um salário mínimo (dentre esses encontramos 12,2%, 4,2 milhões, em famílias com a renda per capita de até ¼ do salário mínimo). Apenas 41,3% (14,1 milhões) viviam em famílias com renda per capita acima de um salário mínimo.

Considerando este perfil de renda e, também, os outros indicadores de desigualdade social, são alarmantes. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD - em 2003, havia no Brasil 23,4 milhões de jovens de 18 a 24 anos, o que representava, aproximadamente, 13,5% da população total e apenas 7,9 milhões (34%) estavam freqüentando a escola. Portanto, 15,4 milhões de jovens de 18 a 24 anos estavam fora da escola. Desse:
·         753,4 mil (4,9%) eram analfabetos;
·         5,4 milhões (35,3%) não haviam concluído o Ensino Fundamental;
·         1,7 milhão (11%) haviam concluído o Ensino Fundamental;
·         1,2 milhão (7,8%) haviam começado o Ensino Médio, mas não o haviam concluído;
·         5,8 milhões (37,5%) haviam concluído o Ensino Médio;
·         547 mil (3,5%) haviam cursado pelo menos um ano do Ensino Superior.
No entanto, precocemente afastados da escola, estes jovens também não estavam inseridos no mercado de trabalho formal. Dentre esse jovens, 14 milhões (60%) desenvolviam algum tipo de ocupação, sendo que 13% ou 3 milhões de jovens declararam-se como desempregados (55% eram mulheres). As maiores taxas de desemprego encontravam-se nas regiões metropolitanas: 24,6%. Nas áreas urbanas a percentagem chegava a 17,6%.

Segundo dados do Censo 2000, 84% dos jovens brasileiros vivam no meio urbano, sendo que 31% em regiões metropolitanas, onde se evidencia um acelerado crescimento sem sustentabilidade sócio-ambiental, a expansão das favelas e das periferias caracterizadas pela ausência de estrutura e equipamentos urbanos de segurança publica, o que evidencia outras facetas da situação de vulnerabilidade em que se encontram os jovens brasileiros.

Como resultado, a maioria dos jovens em nosso país, como em outros da América Latina, vê unicamente, como perspectiva, o desemprego ou a inserção precária no mercado de trabalho, e os salários baixos. Segundo o IBGE, 49% do total de desempregados do país em 2001 estavam na faixa entre 15 e 24 anos. O desemprego é, talvez, o maior problema estrutural de nossa época, já que é resultante de opções de políticas econômicas adotadas na maioria dos paises ocidentais. Nada pode pagar o prejuízo feito por esta situação à dignidade pessoal e a auto-estima. Sem perspectivas animadoras, uma parcela dos jovens – sobretudo das classes populares – recorrem a outras saídas como a violência, dependência de drogas, o crime, o suicídio, a migração para o exterior.

A violência das grandes cidades atinge particularmente os jovens. Segundo os dados do Ministério da Saúde (Sistema de Informação sobre a Mortalidade - Datasus), em 2002, morreram no Brasil 28 mil jovens de 20 a 24 anos, sendo que 72% destas mortes foram ocasionadas por causas externas. Os jovens do sexo masculino foram o alvo prioritário dessas perdas: 18,5 mil mortes, o que corresponde a 80,5% do total.

Publicações divulgadas pela UNESCO mostram que, em 2002, a taxa de homicídios na população jovem foi de 54,5 para cada 100 mil habitantes, contra 21,7 para o restante da população. Dados do Mapa da Violência III, da UNESCO (2002), indicam que essa taxa, para o grupo de jovens de 15 a 24 anos no Brasil (45,8 por 100 mil jovens, em 1999), era a terceira maior do mundo, ficando atrás apenas da Colômbia e do Porto Rico sendo quase oito vezes maior que a da Argentina (6,4 por 100 mil jovens em 1998).

Parte desse quadro de violência está relacionado a o trafico de drogas que vitima os jovens que estão na ponta da distribuição, mas raramente atinge os segmentos que financiam a produção e lucram com este negocio transnacional. No entanto, as pesquisas recentes sobre o uso de drogas apontam que o maior problema esta no consumo de álcool: segundo a pesquisa do Projeto Juventude 52% disse que costumam ingerir bebida alcoólica, 13% fumam, enquanto que 10% declaram que já experimentaram maconha e 3%, cocaína.

Existem jovens também em condições precárias vivendo nas pequenas e medias cidades e no campo. No meio rural vive uma parcela significativa da juventude brasileira (16%), o que equivale a cerca de 5,5 milhões de jovens, que sofrem graves situações de exclusão: o analfabetismo atinge 3,8% da população juvenil (pouco mais de um milhão de pessoas) e, destes, quase metade (43%) vivem em áreas rurais. As situações de violência relacionadas ao narcotráfico e a prostituição infanto-juvenil são fenômenos que passam também a atingir os jovens das pequenas cidades e do meio rural.

As dificuldades enfrentadas pelos jovens do meio rural se assentam, em primeiro lugar, na falta de um modelo agrícola voltado para a agricultura familiar. O modelo econômico vigente tem deixado o pequeno agricultor cada dia mais vulnerável. A diminuição da renda faz com que grande parte da população camponesa, em especial os jovens, abandonem a área rural. A juventude rural sofre, ainda, com possibilidades mínimas na área da educação e da ocupação produtiva, carecendo também de alternativas básicas em equipamentos de laser, cultura e saúde.

Outra situação que vem afetando os jovens é a gravidez na adolescência. Segundo dados de 2001, dos 3,2 milhões nascidos vivos, 695 mil (22,6%) eram de mães entre 15 e 19 anos. Entre 1980 e 2000 houve crescimento de 15% no índice de gravidez de jovens de 15 a 19 anos de idade.

A divida publica (interna e externa), a corrupção e a impunidade desviam recursos financeiros necessários para melhorar a qualidade da educação, da saúde, da moradia, e para gerar empregos. Os jovens são as maiores vitimas da má qualidade da educação, da saúde e da habitação.

Em resumo, os dados sobre a situação socioeconômica expressam o quadro das desigualdades sociais entre os jovens brasileiros, indicando a urgência de programas específicos para essa população, no contexto de políticas publicas focadas no segmento juvenil.

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